Anvisa recomenda que mulheres com silicone PIP procurem seus médicos

Anvisa recomenda que mulheres com silicone PIP procurem seus médicos

 

Não é de hoje que a vaidade é fortemente enraizada no ser humano, especialmente no sexo feminino. Para esse público, os avanços tecnológicos tornaram as cirurgias estéticas cada vez mais acessíveis e, por isso mesmo, mais tentadoras.

A plástica, por exemplo, é o procedimento cirúrgico mais procurado e executado no mundo. Só em 2010, nos EUA, cerca de 300 mil mulheres se submeteram à cirurgia para implantar próteses mamárias. No Brasil, atrás somente dos EUA no ranking mundial de número de cirurgias plásticas, aproximadamente 100 mil mulheres colocaram próteses nos seios em 2009.

No final de 2010, o setor entrou em alerta: as próteses mamárias de silicone da marca francesa PIP (Poly Implant Prothèse) foram proibidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e retiradas de circulação.

Desde 2008 a agência sanitária francesa, a AFSSAPS, investiga a PIP, responsável por 1.143 casos de ruptura de implantes e 495 episódios de inflamações decorrentes de vazamentos. A AFSSAPS constatou que essas próteses continham um tipo de silicone não cirúrgico, composto por cinco diferentes óleos e impurezas, que não constavam da fórmula original que havia sido registrada e autorizada para uso em 2001, época em que a empresa foi criada. Além disso, as próteses eram revestidas por um material mais suscetível a rupturas.

De acordo com o cirurgião plástico Alexandre Piassi Passos, assistente-doutor do Hospital das Clínicas, as fabricadas pela PIP são muito semelhantes às utilizadas no passado, na primeira geração das produzidas com do silicone. Ou seja, seu preenchimento de qualidade inferior e a textura mais líquida aumentavam o risco de o conteúdo vazar caso o revestimento rompesse. Antes mesmo de a qualidade das próteses ser colocada em cheque, a vigilância sanitária brasileira já tinha recebido reclamações a respeito do assunto. Foram cinco em 2010 e sete em 2011.

“Já era sabido que se tratava de um produto de qualidade inferior, com um preço mais acessível. Eu e muito outros médicos nunca trabalhamos com esse tipo de prótese”, afirma o Dr. Piassi.

A vigilância sanitária francesa não considera as próteses tóxicas e descarta a possibilidade de elas causarem câncer de mama, apesar de 20 mulheres que as usavam terem sido diagnosticadas com a doença na França. Entretanto, a AFSSAPS declara que o vazamento do material interno pode provocar irritação. “Por se tratar de um produto mais líquido, o silicone pode espalhar-se pela cápsula fibrótica – um tecido que se forma em volta da prótese depois que o organismo se adapta a ela –, acarretando uma irritação temporária, que aparece em forma de inchaço e vermelhidão na mama”, explica o Dr. Piassi.

 

Retirada das próteses

 

Diante de tantos problemas, a decisão do governo francês foi recomendar a retirada das próteses. Dr. José Horácio Aboudib, presidente da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas), considera a atitude precipitada. “Dados científicos comprovam que em cinco anos apenas entre 3,5% e 10% das próteses PIP irão romper-se. Não é necessário, portanto, submeter todas essas mulheres a um procedimento cirúrgico, que envolve desgaste emocional e financeiro, por causa de uma possibilidade assim pequena”, afirma. Tanto a SBPC  como a Anvisa recomendam que as mulheres com próteses PIP procurem seus médicos e que, juntos, decidam qual a melhor opção a ser tomada.

Em contrapartida, o Dr. Piassi reforça sua opinião e acredita que a troca dessas próteses é necessária. “O procedimento não precisa ser feito de imediato, pode ser pensando para daqui seis meses, um ano. Mas tem que ser planejado. Por que permanecer com uma prótese que pode romper-se a qualquer momento e colocar em risco à saúde? Não faz sentido”, afirma.

 

PIP no Brasil

 

Desde 2010, a comercialização das próteses da marca PIP está suspensa no Brasil. A decisão foi tomada pela Anvisa depois que a AFSSAPS decretou o fechamento da empresa francesa. Até vigorar a proibição, entretanto, o Brasil já havia importado 34.631 unidades da marca, das quais 24.534 foram comercializadas. As outras 10.097 serão recolhidas e descartadas.

Além da PIP, a autorização para comercializar as próteses da marca holandesa Rosfil também foi cancelada pela Anvisa . A medida foi tomada 15 dias depois  de as autoridades sanitárias da Holanda informarem que o silicone presente nos implantes era não cirúrgico, assim como o da marca francesa. No entanto, a venda dos implantes já havia sido suspensa em 2010, na Holanda.

A vigilância sanitária brasileira não tem estimativa de quantas próteses holandesas foram usadas e quantas ainda estão no mercado. Por enquanto, não há registro  de nenhuma reclamação sobre essa marca de implante na Anvisa.

 

Auxílio às mulheres

 

Para auxiliar as brasileiras que apresentarem problemas com as próteses mamárias da Poly Implant Prothèse, o SUS (Sistema Único de Saúde) irá custear novas próteses mamárias, caso sejam notificados problemas de saúde decorrentes de seu rompimento. O serviço poderá ser utilizado até mesmo por aquelas que fizeram o implante em clínicas particulares.

O Ministério da Saúde ressalta que qualquer pessoa que apresente problemas com próteses mamárias, independentemente da marca, pode procurar pelo serviço. Para ser atendida, é necessário que a paciente tenha prescrição de um médico conveniado ao SUS e que passe por exames na rede pública.

Outra medida que deve ajudar no atendimento às brasileiras é o Cadastro Nacional de Implantes Mamários, feito pela SBCP. A ideia de rastreamento ganhou força em 2004, quando houve um surto de contaminação por bactérias em mulheres que haviam realizado implante na região de Campinas, interior de São Paulo.

 

Prótese mamária e suas complicações

 

Os implantes de mama foram criados em 1960 e já estão em sua quinta geração. Mas, com todos os avanços, as próteses de silicone ainda estão ligadas a três riscos: ruptura, infecção e endurecimento. Para superar tais dificuldades, as pesquisas têm buscado encontrar materiais mais resistentes, silicone mais consistente para evitar vazamento e técnicas que minimizem as infecções.

Segundo  Dr. Piassi, embora a probabilidade seja menor que a registrada pela PIP, todas as próteses, independente da marca, correm risco de rompimento. “Um dos fatores que influenciam esse rompimento é a idade do implante. Conforme os anos passam, a resistência tende a diminuir. No entanto, o rompimento por ação do tempo é uma possibilidade remota”, diz.

As infecções podem ocorrer quando as próteses utilizadas estão contaminadas com bactérias. A contaminação pode ocorrer antes ou durante o procedimento, quando microrganismos do próprio corpo da paciente passam para o implante. Os procedimentos feitos pela aréola ou pelas axilas são os métodos mais suscetíveis à infecção, já que são regiões com maior presença de microrganismos.

Quando há infecção, as bactérias se alojam entre a prótese e a cápsula fibrótica que se forma em torno dela. Muitas vezes, o problema passa despercebido e sem resultar em qualquer transtorno de saúde. Em alguns casos, pode haver os mesmos sinais de ruptura (vermelhidão e inchaço), mas raramente o silicone se espalha pelo corpo.

Quanto ao endurecimento do silicone, ele pode ocorrer como consequência de inflamações ou apenas por conta da idade da prótese, mas não causa nenhum risco à saúde.

Os médicos recomendam que todas as mulheres que possuem próteses mamárias se submetam anualmente a exames das mamas, principalmente mamografia e ultrassom para verificar se os implantes continuam em boas condições.

 

Fonte: https://drauziovarella.com.br/saude-da-mulher/anvisa-recomenda-que-mulheres-com-silicone-pip-procurem-seus-medicos/